O Salão Árabe – A Pulsão Pelo Exótico
“ À entrada da ala esquerda do primeiro pavimento, ocupando o ângulo norte do edifício, encontra-se o Salão Nobre da Associação Comercial do Porto, outrora denominado Salão das Recepções e actualmente também conhecido por Salão Árabe.
Começado a construir em 15 de Setembro de 1862, sob projecto de Gonçalves de Sousa, ficou terminado em 12 de Junho de 1880, data em que foi inaugurado a quando duma sessão comemorativa do Centenário de Camões. Para o seu traçado serviu de modelo o belo Palácio de Alhambra, e, se a rigorosa pureza estilística do original deixou de ser seguida na cópia, o pormenor respeitou e conservou, porém, toda a delicada sumptuosidade dos motivos adaptados.”[1]
Fig 1 - Typogravure original de Boussod & Valadon
segundo Grenier. 1890
A atitude historicista do orientalismo na arquitectura europeia manifesta-se, de forma decisiva, na transição do setecentos para o oitocentos[6] através da construção do Pavilhão de Brighton em Inglaterra[7] e que reflectia aspectos chineses e indianos.. Em 1846 Ludwig Von Zanth acaba a “Vila” Wilhelma e em 1848, Rafael Contreras, finaliza o projecto do gabinete árabe do Palácio de Aranjuez (ambos os projectos com influenciados por modelos neo árabes ou neo mouriscos).
Quase em meados do século XIX, estes edifícios em estilo mourisco testemunham o entusiasmo do gosto burguês pelo Oriente. No XIX ocorre um desejo, um interesse crescente em culturas não europeias e antigas. É um fenómeno tão intenso, de tal forma que, com esse desejo, o fantástico e o arqueológico podiam reforçar-se um ao outro[9]. A saudade de um mundo que existia muito longe da realidade há emergente época industrial, está documentada neste estilo historicista e os arquitectos que o abordaram apresentavam uma sólida formação académica, geralmente com origem nas escolas de Belas Artes, e era assumido como um exercício, quase como um divertimento[10].
O exercício desta programação produzia “ … espaços atractivos e feéricos, com decorações fantásticas, o que lhes conferia um carácter peculiar.”[11]. A burguesia de oitocentos assegurava assim o necessário gosto pelo exótico; eram-lhe suscitadas imagens de “…paraísos proibidos pelo seu código ético-moral…”, apoderando-se “ …dessa imagem de exotismo que não mais deixou de utilizar tornando-a até paradigmática.”[12] .
Este fascínio renovado pelo passado mouro fazia parte da crescente obsessão do Ocidente pelo Oriente. Uma obsessão que se desenvolveu num momento em que, historicamente, a ameaça do Islão ao Ocidente tinha claramente recuado. Não será uma coincidência que os dois países com os maiores interesses coloniais (Inglaterra e França) tenham dado origem aos maiores artista europeus e escritores associados com o Orientalismo e que, praticamente, todos os que sucumbiram a esta mania teriam sempre por acabar por visitar Granada e o Alhambra, local que passou a ser conhecido a partir do início do século XIX como “ a Porta do Oriente”. Chegar a Granada e ao Alhambra era a esperança que todos tinham de experimentar as emoções do Oriente sem ter de passar por uma quantidade de perigos, dificuldades e desconfortos que teriam de enfrentar no próprio e verdadeiro Oriente[13].
Referências em compilação
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